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Moçambique: Dívidas para jogos de azar aumentam suícidios


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Dívidas feitas para uso em jogos de azar estão a resultar num crescente número de suícidios em Moçambique.

Com efeito um total de nove pessoas suicidaram-se nos últimos seis meses em Moçambique, entre agentes da Polícia, guardas penitenciários, professores e estudantes universitários, após perderem avultadas somas de dinheiro em apostas nos jogos de azar, disponíveis nas plataformas digitais, disseram nesta quinta-feira, 18, várias fontes locais.

Os suicídios geralmente ocorrem após apostadores terem feito empréstimos avultados em instituições bancárias e ou com agiotas, para apostarem em jogos de azar, convencidos de que poderão multiplicar os valores.

O caso mais recente foi registado na quarta-feira, 17, quando um agente da Polícia da República de Moçambique (PRM), de 22 anos, residente no bairro de Matacuane, na cidade da Beira, se suicidou após sofrer perdas significativas de dinheiro no jogo “Aviator”.

À VOA, Dércio Chacate, porta-voz do comando provincial da Polícia em Sofala, confirmou o incidente que assegurou envolver também uma crise passional, realçando que o agente da Polícia se enforcou com recurso a um carregador de computador portátil.

“Sim, é um colega que se suicidou, e tem outros fatores de ordem passional”, além da aposta, precisou Dércio Chacate, sem mais detalhes sobre o incidente, o segundo que ocorreu na segunda maior cidade de Moçambique este ano.

Polícias

Em Janeiro deste ano, um jovem de 24 anos de idade, membro da PRM, suicidou-se após perder 45 mil Meticais na plataforma Aviator, no distrito de Funhalouro (Inhambane) e um outro agente também se suicidou igualmente após perder 60 mil meticais na localidade de Bilene.

Ainda em Janeiro outro agente da Polícia, afeto à 18ª Esquadra da PRM na cidade de Maputo, igualmente se suicidou após perder dinheiro na mesma plataforma digital.

Em Fevereiro passado, um estudante universitário igualmente suicidou-se após perder valores de propinas em jogos de azar em Sofala, enquanto que um professor se suicidou depois de perder valores emprestados num agiota em Tete.

De Novembro e Dezembro de 2023, quatro casos de suicídios de apostadores de jogos de azar, envolvendo agentes da corporação e penitenciários e civis foram registados pela Polícia nas províncias de Gaza, Inhambane, no sul de Moçambique, e Sofala, no centro do país.

Entre Janeiro a Outubro de 2023, dados da Polícia moçambicana indicam que pelo menos seis casos de suicídios foram registados em cinco províncias de Moçambique, mas a realidade sugere um número muito maior.

Já em Manica, embora sem casos confirmados de suicídio este ano, o sector de educação começou a ressentir-se da assiduidade de 23 professores e agentes de Estado, que emprestaram dinheiro em bancos e perderam em apostas de jogos de azar.

Vulnerabilidade financeira

O sociólogo moçambicano, Abílio Mandlate, observa que as empresas de apostas aproveitam-se da vulnerabilidade financeira, da pobreza, do desemprego e a falta de oportunidades para rentabilizar os ganhos financeiros, para arrastar o seu público para as apostas, que depois concorrem para o aumento destes suicídios em Moçambique.

“O que pode estar a originar muitos suicídios, é o estigma, a vergonha e a pressão social dos perdedores das apostas”, referiu, porque a sociedade esperava deles ganhos honestos com trabalho.

Para o também docente universitário muitos apostadores dos jogos de azar buscam melhorar a estabilidade financeira e melhorar a qualidade de vida, no lugar de apostar como diversão como acontece nos países do primeiro mundo, com educação financeira mais estruturada.

Defendeu que Moçambique precisa criar redes de apoios que possam assistir as pessoas que estejam viciadas em jogos de azar como acontece com outras patologias.

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